quinta-feira, 22 de março de 2012

ARTIGO PUBLICADO NO SETEPE


A GESTÃO DOS RECURSOS FINANCEIROS DE UMA ESCOLA PÚBLICA NO MUNICÍPIO DE MOSSORÓ-RN.
 Everton Viana da Silva
Seliane de Oliveira Pascoal[1]
Francisca Maria Gomes Cabral Soares[2]

RESUMO
Este artigo objetiva esclarecer a origem dos recursos financeiros e como acontece sua utilização em uma escola pública do município de Mossoró-RN. Para isso, questiona-se: Quais são os recursos e como eles são aplicados; além disso, discute-se e analisa-se a autonomia e a gestão escolar. A temática relaciona-se com a realidade referente ao desenvolvimento do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência - PIBID/CAPES. Para a elaboração deste artigo realizamos uma pesquisa empírica com o propósito de melhor compreendermos a gestão financeira. Constatamos por meio desta pesquisa a relevância da administração dos recursos financeiros para as instituições de ensino, bem como da presença da autonomia e da gestão, pois é considerando as decisões tomadas pela comunidade escolar que percebemos a contribuição das políticas de financiamento da educação para efetivar um trabalho coletivo.
Palavras chaves: Escola. Gestão. Recursos Financeiros.

 1 Introdução

Este trabalho tem como objetivo discutir a origem e utilização dos recursos financeiros, como também a influência destes na qualidade de ensino, juntamente com a autonomia e a gestão escolar. Para o entendimento das questões expostas discutiremos alguns autores, como: PARO (2001); RUSSO (2007); LIBÂNEO (2004) que contribuem de forma significativa para as nossas discussões.
O presente artigo não tem como objetivo criticar a aplicação dos recursos financeiros pelas instituições, nem tampouco a organização das escolas, mas refletirmos um pouco sobre as concepções de autonomia e gestão discutidas por alguns estudiosos da área, relacionando com os resultados da pesquisa empírica realizada na escola. Serão abordados os itens: análise e reflexão dos recursos financeiros da escola; autonomia e gestão escolar: a influência na qualidade do ensino.

2 Análise e reflexão  dos recursos financeiros da escola

As escolas públicas brasileiras recebem recursos financeiros que chegam a estas instituições com denominações e fins distintos. São eles: Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), Programa de Autogerenciamento da Unidade Escolar (PAGUE), Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), Plano de Desenvolvimento Escolar (PDE), além do programa mais educação presente em algumas instituições. Para melhor compreendermos essas siglas, a seguir serão discriminados alguns recursos financeiros destinados às escolas públicas brasileiras.
O PDDE é um recurso destinado à aquisição de materiais de expediente, tais como: papelaria, materiais de limpeza e manutenção de equipamentos. A instituição recebe uma única parcela para a compra destes materiais não podendo utilizá-lo para outros fins. O PAGUE é um recurso estadual destinado à compra de material de consumo como: gás de cozinha, material de limpeza e pequenos reparos na estrutura da escola. São repassadas 04 parcelas para atender a esses fins. Há também o PNAE, destinado a compra da merenda para os alunos do ensino fundamental, e almoço dos alunos do programa mais educação.
O PDE é o instrumento que credencia todas as demandas das escolas referentes à gestão pedagógica, recursos humanos e materiais, como também de infraestrutura. O depósito do valor ocorre por meio de uma parcela anual.
No entanto se a escola precisar de mais dinheiro para arcar com quaisquer despesas extras que venha a ter, a mesma ficará impossibilitada de usar os demais recursos financeiros que disponha, pois não possui autonomia administrativa para isso.
Neste sentido de acordo com Paro (2001, p.115), “[...] com relação à autonomia administrativa, esta significa a possibilidade de dispor de recursos e de utilizá-los da forma mais adequada aos fins educativos”. No entanto, o que observamos até aqui é que cada recurso apresentado tem destino pré-determinado. Desta forma fica o gestor escolar impedido de utilizar este dinheiro para qualquer outro fim que não seja o estabelecido pelos sistemas de ensino.
Cabe aqui refletirmos acerca da autonomia difundida nas escolas, pois percebemos que as escolas públicas não gozam de uma autonomia plena para o desenvolvimento das atividades desejadas e disporem dos recursos como e onde desejarem.
Nos últimos anos foi implantado em algumas escolas o programa mais educação com o objetivo de manter as crianças na instituição desempenhando as atividades propostas pelo programa. No entanto, muitas destas instituições não estão preparadas para receber esses alunos em tempo integral, o que só dificulta o desenvolvimento das atividades.
O Mais Educação é um programa federal que visa a educação dos alunos em tempo integral, ou seja, eles passam o dia todo na escola onde desenvolvem atividades: esportivas e culturais com auxílio de monitores. As duas parcelas pagas anualmente. São usadas para a compra de kits e materiais das modalidades a serem desenvolvidas na escola com os alunos, além de materiais de consumo e pagamento de monitores.
Constatamos ainda que para o sucesso do projeto as instituições devem estar preparadas para receber essa nova demanda, oferecendo melhores estruturas para assim desenvolverem as atividades pedagógicas de forma que estas venham a ter bons resultados e que dessa forma os objetivos do programa sejam alcançados.

2.1 Autonomia e gestão escolar: a influência na qualidade do ensino

São vários os fatores que podem interferir na qualidade da educação e muitos deles bastante discutidos. É por meio de investimentos e da valorização da educação e de outros fatores que podem melhorar as condições de trabalho dos profissionais que a fazem. Nessa perspectiva chamamos a atenção para a visão de Russo (2007, p. 70) que afirma:

Em geral, são mais citados como fatores que interferem na qualidade: os insumos básicos para que a escola funcione adequadamente, ou seja, recursos humanos, materiais e financeiros necessários para sustentar as práticas escolares; as condições de trabalho e remuneração dos professores; e a competência do corpo docente, que se traduz como formação inicial e continuada, experiência e compromisso com a causa da educação.

Nessa perspectiva, deixam-se de lado alguns fatores considerados importantes para a gestão do processo e da produção de trabalho (RUSSO 2007, p.70).  Por outro lado, acredita-se também que não são apenas esses fatores que interferem na qualidade da educação, pelos menos é a concepção dominante. Essa é uma ideia que entende a administração como sendo técnica, tendo como objetivo garantir a racionalidade, sem interferir na qualidade.
Uma visão mais comum é a de uma gestão centralizada que busca a objetividade e divisão do trabalho, respeito à hierarquia, ou seja, os cargos e funções são bem definidos dentro das instituições, e participação limitada da comunidade nos planejamentos. De acordo com Libâneo (2004, p.120) “Esse é o modelo mais comum de organização escolar encontrado na realidade educacional brasileira, embora já existam experiências bem sucedidas de adoção de modelos alternativos, numa perspectiva sociocrítica”.
Em relação aos fatores que interferem na qualidade da educação, podemos citar a aplicação dos recursos financeiros, ou seja, a forma como esses são investidos. Os recursos financeiros são considerados por muitos como sendo responsáveis ou que influenciam na qualidade do ensino. Mas como sabemos a utilização destes recursos pelas escolas envolve um grande processo burocrático que pode causar dificuldades as escolas, pois em nenhuma hipótese os gestores destas instituições podem usar o dinheiro para sanar outra necessidade que não a determinada pelas leis.
Podemos perceber também que a autonomia presente nas escolas não é real, mas uma falsa autonomia imposta pelo governo que delega responsabilidades sem descentralizar o poder. E sobre isso Paro (2004, p.57) afirma que “Com relação à autonomia administrativa, não confundir descentralização de poder com ‘desconcentração’ de tarefas”. Sendo assim, podemos observar que a autonomia apresentada é um processo que não corresponde à realidade vivenciada pelos que fazem parte da comunidade escolar.
Espera-se que a autonomia contribua com o processo de qualidade e gestão do ensino, no entanto não é o que observamos, pois os governos não oferecem as condições mínimas necessárias ao bom funcionamento das escolas, uma vez que, as instituições não contam com a autonomia administrativa que precisam para empregar os recursos financeiros de forma mais adequadas aos fins educativos. No entanto, isso não significa que os gestores possam administrar os recursos como bem lhes convier, mais de forma responsável.
Nesta perspectiva, Paro (2001, p.115) aponta para esse fato bastante relevante e significativo da gestão escolar:

[...] também a autonomia administrativa da escola tem limites nas ações do Estado, que não pode abrir mão de seu dever e de suas prerrogativas em matéria do ensino. Isso se significa que gerir os recursos com autonomia não implica utilizá-los apenas da forma que professores e diretores considerarem mais conveniente. Significa que, a partir de diretrizes gerais traçadas pelo sistema, cada unidade escolar imprime a sua gestão uma forma mais adequada a suas peculiaridades.

Concordamos que as escolas encontram limites em relação à administração dos recursos financeiros. Neste sentido fica evidente que as escolas não têm autonomia para gerir os recursos de qualquer forma, e vale também ressaltar a importância da presença de diretrizes para direcionar a utilização dos recursos.

3 Considerações Finais

Este trabalho permitiu-nos conhecer os programas e recursos disponíveis para as escolas públicas brasileiras. Fizemos uma análise detalhada nela e conhecemos a origem e os destinos desses recursos financeiros e suas formas de utilização pelos gestores escolares.
Durante a pesquisa observamos a ausência da participação da comunidade escolar. Percebemos ainda que os pais dos alunos desconhecem a finalidade dos conselhos da escola. E sendo assim podemos afirmar que esses conselhos não exercem nenhuma influência nas decisões que deveriam ser tomadas coletivamente.
A autonomia e a gestão escolar são consideradas por muitos como sendo de grande relevância para a melhoria do ensino. No entanto, cabe chamarmos a atenção para o fato de que não são apenas esses fatores que contribuem positivamente ou negativamente para a melhoria do ensino, pois há outros que também podem interferir nesse processo de ensino-aprendizagem, tais como: baixos salários e ausência de estruturas adequadas, entre outros.
Em relação às concepções de gestão observamos a presença dominante da administração técnico-científico. Essa concepção predominante nas escolas considera a administração escolar muito próxima a de uma empresa. Nesta constatamos que os cargos e funções estão bem definidos, onde cada membro da instituição faz sua parte. Há também um grande respeito à hierarquia, como também, uma acentuada centralização das decisões nas mãos do diretor, quando deveriam ser tomadas conjuntamente com a direção escolar e os demais membros da escola.
Para uma substantiva melhoria da qualidade do ensino, e consequentemente da educação espera-se que os governos não só descentralizem tarefas, mas poder, como nos coloca Paro (2001, p.115). O autor afirma também que a denominação qualidade total surge como pretexto para atender ao neoliberalismo. E assim sendo é importante ter cuidado com esse fato.
É bastante relevante o fato das instituições de ensino procurar envolver desde os professores, alunos, pais e direção nas atividades e nas decisões que as mesmas venham a tomar, pois acreditamos que desta forma a tão sonhada melhoria da educação comece a acontecer mesmo que não ocorra de imediato.
      

REFERÊNCIAS

LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da Escola: teoria e prática. 5ª ed. Goiânia. Alternativa, 2004.
PARO, Vitor Henrrique. Escritos sobre educação. São Paulo. Xamã, 2001.
RUSSO, Miguel Henrrique. Administração escolar. In: BAUER, Carlos et al. Brasília: Líber Livro, 2007.




[1] Alunos (as) licenciandos do curso de  Pedagogia do Campus Central – UERN – Bolsistas da CAPES - PIBID.
[2] Professora mestre da Faculdade de Educação – Campus central - UERN – Coordenadora do Subprojeto de Pedagogia do PIBID – Bolsista CAPES.

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