NARRATIVAS (AUTO)BIOGRÁFICAS: A VIDA,
A DOCÊNCIA E A FORMAÇÃO CONTINUADA
EIXO TEMÁTICO: II. MEMÓRIA, DIMENSÕES
SÓCIO-HISTÓRICAS E TRAJETÓRIAS (AUTO)BIOGRÁFICAS
Geisa Maria Fagundes (Professora da Rede pública e
vinculada a FE/UERN)[2]
Silvia Maria Costa Barbosa (Professora Dra da UERN)[3]
RESUMO
O tema formação de professor, nas
últimas décadas, vem se constituindo em palavra de ordem nos documentos
oficiais, nas reformas educativas, nos acontecimentos científicos sobre
Educação, nos cursos de licenciaturas, cursos de atualização, cursos de
especialização voltados para a formação do professor e em todos os ambientes
que requerem a presença e a prática desse profissional. São discussões que
giram em torno da formação do professor, mas principalmente sobre a atividade
pedagógica, saberes docentes, profissionalização docente, professor reflexivo,
identidade do professor, planejamento, avaliação, estratégia de ensino, ensino
e tantas outras discussões advindas das necessidades vigentes dos educadores.
Na sua atividade pedagógica de ensinar, o professor recorre inevitavelmente às
técnicas que o auxiliarão a um ensino melhor, como por exemplo: planejar suas
atividades diárias, na perspectiva de como fazer, saber fazer, para que fazer,
para quem fazer e avaliar continuamente as atividades e, principalmente, mediar
o saber cotidiano do aluno, com o saber intelectual historicamente construído
pelas gerações. Ao professor é atribuído o papel de rever, simultaneamente,
dentre outros aspectos, os currículos prescritos e vividos, os valores e normas
difundidas pela sociedade, as experiências pedagógicas vividas e, sobretudo, a
necessidade em canalizar esforços tendo em vista o compromisso de inovar sua
prática pedagógica para atender às necessidades vigentes. Preocupados com
a melhoria da qualidade da educação e, consequentemente, com a formação do
professor, vários países do primeiro mundo, França, Espanha, Portugal, entre
outros, reformularam seus cursos de licenciaturas, tendo em vista melhorar a
preparação deste profissional para atuar no ensino. Podemos afirmar que o ato
de ensinar como expressa Roldão (2005) é complexo, e ele ainda afirma que se
quisesse ser uma professora hoje no 1º ciclo, precisaria adquirir mais saberes
científicos do que tem hoje, tendo em vista a especificidade e abrangência dos
conteúdos, como por exemplo, do campo da linguística, da construção cognitiva
do cálculo matemático, além dos conhecimentos geográfico, histórico e das
ciências, necessários ao ensino de crianças desse ciclo. Não se pode pensar num
professor que não esteja constantemente voltado para estudos, para pesquisa e
para ampliação de seus conhecimentos. Esse professor deve estar preocupado com
suas atividades pedagógicas, com os processos avaliativos, com a elaboração dos
planos de aulas, com a descontinuidade dos estudos. Tudo isso tem relação com o
saber, que implica desejo, vontade de fazer bem e de aprender cada vez mais.
Para Charlot (2005, p. 76), “uma aprendizagem só é possível se for imbuída de
desejo (consciente ou inconsciente) e se houver um envolvimento daquele que
aprende”. Ele deve ser capaz de estabelecer relações entre os vários
conhecimentos sobre o mundo e situá-los no tempo histórico para seus
alunos. Com o objetivo de conhecer um pouco da história e trajetória de
vida de uma professora dos anos iniciais do Ensino Fundamental realizamos uma
pesquisa autobiográfica para conhecermos as suas expectativas ao se tornar
professora. Essa pesquisa surgiu da nossa participação como bolsistas do
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID, que tem a
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES – como
agência de fomento e a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte –
UERN, tendo assim, a integração entre Universidade e Escolas para a
formação inicial e continuada de professores da Educação Básica. Neste sentido,
buscamos conhecer os sentidos e significados que a professora tem a respeito de
ser professora. Buscamos fundamentar nossa
análise e interpretação dos dados em dois eixos: em primeiro lugar faremos uma
discussão sobre a formação do professor levando em consideração como Finger
(1984); Josso (2002); Nóvoa (1995) Tardif (2002); em segundo lugar iremos discutir os fundamentos teóricos de L. S.
Vigotski (2001), Aguiar e Ozella (2006) que tratam o sujeito como histórico, social e único.
Para obtermos a produção dos dados em primeiro lugar realizamos uma
entrevista com a professora com quatro questões norteadoras: 1) Conte-me um pouco
da sua história de vida; 2) Quais as suas expectativas ao ser tornar
professora?; 3) Qual tipo de escola você
estudou e se formou?; Quanto tempo de experiência profissional?; 4) Fale-nos
sobre o PIBID-UERN e o trabalho que você tem desenvolvido nele e comente os
pontos positivos e negativos nessa sua experiência. Assim este trabalho se
divide em três momentos, o primeiro conta um pouco da historia de vida da
professora; no segundo revemos sua formação no magistério e em seguida como
pedagoga e o seu trabalho em duas escolas, uma publica e outra privada; e por
fim sua vivencia como bolsista do PIBID-UERN e a contribuição deste em sua
vida, e como a mesma vem atuando na perspectiva de contribuir para a formação
inicial do fazer pedagógica dos alunos bolsistas do Curso de Pedagogia. Nessa
perspectiva, constamos que o trabalho com autobiografia do educador, além de
ser um espelho de sua atuação pedagógica, ainda é uma autoconfirmação das ações
didáticas deste profissional em sala de aula, podendo ele através desta
narração compreender seu trabalho de outra dimensão, reforçando suas ações e
revendo os pontos onde considera que deve melhorar. Concluímos que a pesquisa autobiografia revelou não só o
percurso da professora em sua vida pedagógica, mas demonstrou que o PIBID/CAPES/UERN tem contribuído significativamente para o seu
desenvolvimento intelectual, bem como tem sido um meio que possibilita
reciprocamente o trabalho pedagógico como também apreendido novos meios
educacionais, pois segundo a mesma, o programa apresenta proposta que ela
muitas vezes utilizava, mas com o programa pôde ter mais acesso a formação
teórica que sentia falta. Assim considera este programa como uma confirmação
de ações que possibilita
estudos, projetos de ensino, oficinas pedagógicas e construção de material
didático. Por fim a pesquisa
autobiográfica possibilitou um aprofundamento maior, além dos conhecimentos
pedagógicos, pois permitiu a confirmação das ações pedagógicas exercidas pela
professora pesquisada, afirmando suas ações como educadora que procura ampliar
sua formação continuada. Assim a pesquisa autobiográfica revelou-nos ser um
instrumento ímpar na construção de aprendizagens e consolidação de troca de
saberes entre as alunas bolsistas que realizaram a pesquisa e a professora da
rede básica que narrou os fatos marcantes da de sua vida.
PALAVRAS CHAVE:
Narrativas (auto)biográficas; vida docente; formação continuada.
INTRODUÇÃO
A
formação docente do pedagogo segue uma serie de etapas, que vem desde a
educação primaria até sua formação superior. Este trabalho (auto)biográfico apresenta
o percurso formativo de uma professora da educação básica, até os dias atuais
em sua práxis e formação continuada através da participação da mesma como
bolsista supervisora no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à
docência (PIBID), que tem financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (CAPES) em parceira com a Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte (UERN).
O
objetivo deste trabalho é traçar o caminho formativo desta professora, como
também exaltar a relevância de se narrar a (auto)biografia dela como forma de
rever e vivenciar a prática desta, bem como, analisar o percurso didático
pedagógico no qual se processou a sua formação e atuação ao longo dos anos
escolares até se encontrar com o PIBID e como este vem contribuído para a sua
formação em serviço e como ela possibilitado aos alunos bolsista uma troca da sua
experiência de anos de magistério com as novas discussões e sugestões a
respeito das atividades escolares .
A nossa pesquisa (auto)biográfica se deu
através de entrevista com a professora onde solicitamos que a mesma contasse e
respondesse os seguinte questionamentos 1) Conte-me um pouco da sua história de
vida; 2) Quais as suas expectativas ao ser tornar professora?; 3) Qual tipo de escola você estudou e se formou?; Quanto
tempo de experiência profissional?; 4) Fale-nos sobre o PIBID-UERN e o trabalho
que você tem desenvolvido nele e comente os pontos positivos e negativos nessa
sua experiência; Além da entrevista buscamos referenciais teóricos como Finger (1984); Josso (2002); Nóvoa (1995); Souza
(2006); Tardif (2002); dentre outros que abordam
a relevância de se escrever sobre a vida profissional dos professores, bem como
sua trajetória docente.
Assim este trabalho se divide em três
momentos, o primeiro conta um pouco da historia de vida da professora; no
segundo revemos sua formação no magistério a atuação como pedagogo (docente) e
o seu trabalho em duas escolas: uma pública e outra privada; e por fim sua
vivencia no PIBID e a contribuição deste em sua vida, e como a mesma atua
contribuído para formação didática pedagógica dos alunos bolsistas.
Diante de
tudo isso, percebemos a relevância da realizar trabalhos (auto)biográficos com os
professores, pois ao utilizar-se
da abordagem autobiográfica como possibilidade de autoformação, evidencia-se
colocar o sujeito como produtor de um conhecimento sobre si, sobre os outros e
sobre o cotidiano, revelando-se através da subjetividade, da singularidade e
das experiências dos saberes que construiu-se ao longo de sua trajetória pessoal
e profissional, Souza (2006). Na perspectiva de Vigotski (2001) o
homem é um ser social, haja vista estabelecer relações com outros homens e
constituir-se a partir dessas relações. Nessa abordagem vigtskiana a
aprendizagem se desenvolve através das interações sociais, já que o ser humano
é uma síntese de múltiplas determinações, transformando e sendo transformado
pelos inúmeros processos de desenvolvimento que compõem essas relações. Para a
Psicologia Sócio-Histórica, o homem é um ser histórico, social e único, ao
mesmo tempo.
HISTÓRIA DE VIDA E A FORMAÇÃO
PEDAGÓGICA
Neste trabalho usamos a
(auto)biografia para evocar elementos da formação e práxis pedagógica de uma
professora da educação básica dos anos iniciais. Usamos da abordagem autobiográfica, pois esta nos assegura a
possibilidade de autoformação, já que colocar o sujeito como produtor de um
conhecimento sobre si. Invocamos primeiramente a vivencia profissional de uma
professora da rede básica de ensino, onde se encontra atuando como docente nas
séries iniciais há 22 anos. A professora ao narrar sua viva, revive sua
história e trás de suas vivencias os elementos mais importantes que constituem
sua trajetória de vida. Nesse momento ao observar a forma de narrar sua
história podemos inferir que a mesma se enxerga como autora de sua história,
mas encontra-se como narradora, vivenciando e revivendo momentos que constituem
sua história.
A centralidade do sujeito no processo de investigação-formação sublinha
a importância da abordagem compreensiva e das apropriações da experiência
vivida, das relações entre subjetividade e narrativa como princípios, que
concede ao sujeito o papel de ator e autor de sua própria história (SOUZA, 2006 p. 36).
A
professora
a qual escrevemos sobre suas experiências, leciona em uma escola da Rede Estadual
de Educação Fundamental, da cidade de Mossoró/RN, desde 1997, ela tem
Licenciatura Plena em Pedagogia, turma de 1997/UERN. Nasceu na mesma cidade em
que atual como professora. Ela relata que dos três aos dezoitos anos morou na
cidade de Itaú/RN, onde cursou da primeira série primária até a oitava série do
antigo Ginasial.
Segunda a mesma naquela
época em que concluiu o 1º grau, não havia escola de 2º grau na cidade em que
residia, assim, ela se deslocava todos os dias para a cidade de Pau dos
Ferros/RN, lá estudou na Escola Estadual 31 de Março, e conforme relato: “fiz o
curso Técnico em Ciências Contábeis”.
Com a conclusão deste
curso a professora no final de 1982, voltou para a cidade de Mossoró/RN, onde
trabalhou como operária e bancária. Foi quando decidiu voltar a estudar para
ser professora, um sonho de sua mãe, que a mesma define como mulher de grande
força de vontade e coragem. Como já trabalhava pôde pagar o curso do
Magistério, confessa que foi durante o tempo que estava cursando o Magistério, que
se apaixonou pela profissão.
Percebemos pelos relatos
da professora que desde sua mocidade ela pretendia atuar como educadora apreendemos
isso ao analisarmos sua história de vida. Entendemos com isso que ao refazer
sua história de vida através de um exercício de memória, permitiu analisar as
condições e contextos em que desenvolveu suas experiências, permitindo assim
que ambos: narrador e pesquisador compreendesse as especificidades e
aproximações com as histórias de outros sujeitos.
Segundo Josso (2002,
p.08) “[...] a consciência nasce
quando interpretamos um objeto com o nosso sentido autobiográfico, a nossa
identidade e a nossa capacidade de anteciparmos o que há de vir.” A leitura da
narrativa (auto)biográfica da professora traz novos diálogos a formação do
educador, tanto a narradora quanto o pesquisador. Ela (a professora) revive sua
história de vida e com isso a flora aspectos relevantes da formação através dos
fatos narrados, sendo perceptível às mudanças de expressão na mesma, a cada
novo fato, a cada experiência revivida. Quando perguntamos pelas professoras da
graduação, quais ela recorda e cita duas em especial, segue o relato:
E relembrando
mestres de diversas fases de minha vida, vou me concentrar em duas professoras
queridas, ambas exigentíssimas. Porém, justas, generosas e incentivadoras. A
primeira Ana Gomes (4º ano primário), a outra Joana Darc (Magistério). As duas
exigiam atenção e trabalho, eram justas: nunca deixavam de ter uma palavra de
reconhecimento ao esforço feito. Eu estudava para agradá-las, para vê-las
satisfeitas comigo (Professora da educação básica – Mossoró/RN, junho de 2012).
As escolas onde passou
deixaram marcas em sua própria formação, a professora, ao lembrar-se de suas
professoras, destaca duas, que além de marcar sua vida, usa-as como referencia
profissional. Quando a esse relato, percebemos que o esforço primeiro, com os
estudos, se dava para agradar as professora que ela admirava, na sua fala é
possível compreender que ela se espelhava nas professoras que ela tinha como
referencia, e que isso foi relevante no decorrer de sua formação.
Quando já formada, conta
que se submeteu a uma seleção, através de uma prova, onde foi selecionada em 2º
lugar, para exercer a função de professora dos anos iniciais do Ensino
Fundamental em uma escola particular na cidade de Mossoró/RN. Relata que
reencontrou a professora Joana Darc, do Magistério, agora exercendo a função de
supervisora na referida escola. Percebemos na sua fala a satisfação pessoal, a
alegria, de agora esta diante de sua ex-professora, exercendo a profissão, ou
seja, nesse momento elas não se encontravam mais como professora/aluna, mas
colegas, mas ainda assim relata que: “nos tornamos amigas, Joana se transformou
num referencial ético e profissional”. E continua: “Sempre quis ser uma
profissional tal qual minha antiga professora com a mesma competência e coragem”.
Notamos que o respeito a sua professora se solidificava, e agora se espelhava
mais ainda na colega de profissão, a quem sempre irá se dirigir como sendo sua
professora.
Em
1990, a
professora, passou em um concurso público onde leciona até hoje como professora
Permanente no Nível III – em uma escola da rede Estadual de Ensino. No decorrer
de sua atuação trabalhou como Coordenadora Pedagógica na mesma escola, em um
período de um ano. Atuou ainda, nos anos de 1996 a junho/2011- em uma
escola particular, da qual se desvinculou para participar da seleção para ser supervisora
bolsista do PIBID/UERN, programa no qual se encontra vinculada atualmente, e no
qual acredita, esta tendo a oportunidade de ter uma formação continuada, pois
pretende fazer uma pós- graduação.
Com este estudo no que se
refere aos saberes da docência, as relações entre história de vida,
desenvolvimento pessoal e profissional, reafirmamos a necessidade de atentarmos
para uma escuta sensível à voz dos professores. A professora sinaliza para sua
formação e suas expectativas como professora ao longo de sua história,
interessante é que ela ainda demonstra sede de conhecimento, na sua fala ela
expõe o inacabamento profissional e pessoal que nos fala Freire (1996), ela
revive e aprimora os conhecimentos.
Depois, de voltar à mesma universidade
vejo que, muito mudou, os professores planejam atividades mais criativas dando
oportunidade do aluno ter uma atitude permanente de curiosidade epistemológica
intelectual, desejando enriquecer seu repertório de ideias e experiências, o
PIBID é um exemplo disso, esse Programa leva não só os alunos, mas nós
professores envolvidos a ter novas experiências, e ver com novos olhares, vejo
o meu aluno com outros olhos, com o olho que quem esta começando de novo. (Professora
da educação básica – Mossoró/RN, junho de 2012).
Percebemos na fala da
professora que ela está revivendo sua práxis a partir de um novo olhar, ela
esta refletindo sobre o fazer pedagógico que já tem, mas esse novo olhar que
ela enfatiza, faz com que ela aprimore o conhecimento, e aperfeiçoe a prática.
As suas expectativas como professora foram inicialmente almejadas a partir da
observação da prática de suas ex-professoras, mas agora extrapola, dando-lhe
novo sentindo ao ator de educar e educar-se. Tardif (2002) expõe quanto a isso,
que a pesquisa insere-se sobre a epistemologia da prática profissional dos
educadores como um dos principais elementos concernentes à formação destes na
contemporaneidade.
A finalidade de uma epistemologia da prática profissional é revelar
esses saberes, compreender como são integrados concretamente nas tarefas dos
profissionais e como estes os incorporam, produzem utilizam, aplicam e
transformam em função dos limites e dos recursos inerentes às suas atividades
de trabalho. Ela também visa compreender a natureza desses saberes, assim como
o papel que desempenham tanto no processo de trabalho docente quanto em relação
à identidade profissional dos professores (TARDIF, 2002
p.11).
Nas
narrativas autobiográficas da professora, apreendemos enquanto ouvintes não só
a sua experiência de vida, mas também nos apropriamos dos fatos narrados. Todo
o tempo à professora se remete a sua experiência profissional, aos seus
saberes/fazeres pedagógicos, ela compreende a noção desses saberes e o
movimento epistemológico onde eles são “testados”, criado e reinventados, ou
seja, notamos que a práxis a qual se remete como sendo a sua, esta ao longo dos
22 anos de profissão passando por uma série de mudanças através da continua
formação que esta se submetendo, percebemos que ela atua enquanto esta em pleno
processo de formação, ela busca isso, ela não se aquieta, porém, todavia, se
inquieta com o novo, ela nos revela, bem mais que sua atuação, nos revela o
movimento da apreensão do saber/fazer docente que se revela continuo no decorrer
de sua atuação.
PERCURSO DOCENTE: UMA PAIXÃO DE
MUITAS FACES
A narração autobiográfica da
professora da educação básica permitiu a esta um autoquestionamento de sua
práxis, a mesma refletiu várias vezes sobre sua tarefa de educar, ensinar e
cuidar, e relatou:
Ser professora
nunca foi uma tarefa fácil. Atualmente, porém, está mais difícil exercer o
trabalho docente. A falta de limites das crianças e de motivação da maioria dos
nossos alunos tornaram-se alguns dos maiores problemas enfrentados pelos
educadores. Hoje, temos que ter bom domínio de conteúdo, consciência
profissional, boa relação afetiva, liderança, autoridade e acima de tudo
trabalhar valores. Pois, sabemos que a maioria das famílias perdeu a autoridade
sobre os filhos e pressionam a escola para fazerem em seu lugar. Mas, apesar de
requerer força de vontade e trabalho árduo é muito gratificante (Professora da
educação básica – Mossoró/RN, junho de 2012).
As palavras dela mostram
mais que sentido, ela se debruça sobre sua experiência, compara, se inquieta, e
mostra que apesar da mudança, ela também mudou. Enfrenta essa nova etapa como
possibilidade de conhecimento e formação. Entendemos com isso que as
representações construídas pelo sujeito na narrativa, evidenciam-se a partir de
momentos que marcaram sua vida, ou seja, evidencia àqueles momentos que foram
formadores e de conhecimento em sua trajetória pessoal e de escolarização.
Nestes momentos-charneira, o sujeito confronta-se consigo mesmo. A
descontinuidade que vive impõe-lhe transformações mais ou menos profundas e
amplas. Surgem-lhe perdas e ganhos e, nas nossas interações, interrogamos o que
o sujeito fez consigo próprio ou o que de si mesmo para se adaptar à mudança,
evita-la ou repetir-se na mudança (JOSSO, 1988,
p. 44)
Assim percebemos que a mesma revive e rememora sua
história de vida, nos momentos que o autor acima citado chama de
“momentos-charneira”, onde ela confronta-se consigo mesma e aprimora sua experiência
através da memória e possibilita o conhecimento de sua experiência aos que
ouvem, e ao leitor de sua história de vida.
A
professora conta que mesmo após ter terminado o curso de magistério ingressou
na faculdade de pedagogia em 1993, na antiga FURRN (Fundação
Universidade Regional do Rio Grande do Norte), onde atualmente é a UERN
(Universidade do estado do Rio Grande do Norte), seu
desejo era aprimorar mais seus conhecimentos pedagógicos. Relata que percebeu
diferenças no decorrer da formação e que foi muito gratificante ter cursado a
graduação.
No
Magistério os conhecimentos são transmitidos de forma mais superficial e muitas
vezes, distantes da real conjuntura educativa. Já no curso de Pedagogia
percebe-se uma ligação teórica e prática destinada a clientela que temos
atualmente nas escolas. Além de realizar mais pesquisas e estudos que nos
embasam enquanto profissional. Na época em que fiz faculdade os conhecimentos
teóricos eram mais focalizados. Hoje, estimulam mais os alunos a usarem canais
diversos de informações e aprendizagem.
Os professores promovem mais atividades didáticas mais interessantes, o
alunado tem um envolvimento maior com a praticidade da sala de aula mais cedo,
antes nosso primeiro contato com a escola era somente no quinto período
(Professora da educação básica – Mossoró/RN, junho de 2012).
A professora, ao
relatar sua experiência enquanto aluna do magistério faz uma comparação com o
que vivencia, nos dias atuais na faculdade de educação através do PIBID, ela
faz inferências sobre o perfil do professor formado antigamente o que agora tem
a oportunidade de vivenciar através da aproximação que vive com a universidade
e com as alunas do curso de Pedagogia.
A esse respeito relata
que percebe a diferença na formação de antes e de agora, pois fazia muito
fichamento e seminários, estudava textos em grupos e depois, apresentava para a
turma, os professores ficavam ali sentados apenas assistindo, poucos interviam
nas exposições. Outros faziam somente provas escritas e ainda queriam as
respostas tal quais estavam nos livros, dificilmente expunham as suas opiniões.
Enfatiza que, depois, de voltar a mesma universidade vê que, além de mudar o
nome, a Universidade também mudou o ensino, ver que os professores planejam
atividades mais criativas, oportuniza aos alunos desenvolverem uma atitude
permanente de curiosidade epistemológica intelectual, que faz os alunos a
interagir com o saber que esta em movimento e diz que o PIBID é um exemplo
disso.
Diante disso, a abordagem
autobiográfica apresentou-se como um processo de autoformação. Pois a partir
desta, a professora expôs a sua vida e vivencia profissional, fez relações da
formação, autoformação como sendo o meio mais amplo e social do individuo. O
esforço pessoal de explicitação de uma dada trajetória de vida faz emergir ao
mesmo tempo a contribuição para uma tomada de consciência individual e coletiva
do processo de formação que se segue. Ferrarotti (1988, p. 27) nos adverte que:
“[...] todo ato individual é uma
totalização sintética de um sistema social. Toda a narrativa de um
acontecimento ou de uma vida é, por sua vez, um ato, a totalização sintética de
experiências vividas e de uma interação social”.
PIBID/UERN CONTRIBUIÇÕES A
FORMAÇÃO CONTINUADA
A
formação continuada sempre foi um discurso que permeou a vida profissional de
qualquer professor, porém nem todos participam desse processo, por diversos
fatores. A professora relata que a oportunidade de vivenciar novamente a
formação veio através do PIBID (Programa Institucional de Bolsa
de Iniciação à Docência), vinculado a Universidade Estadual do Rio Grande do
Norte (UERN), financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do
Nível Superior do Ministério da Educação (CAPES/MEC), pois o programa não só oferece
bolsas de iniciação à docência aos alunos de licenciatura, como também
oportuniza a professores de escolas públicas participar ativamente do projeto
como supervisores na própria escola onde lecionam, atuando como coformadores no
processo de iniciação à docência, em conjunto com o formador da universidade.
A
professora relata que conheceu o projeto quando o mesmo foi levado à escola em
que ela trabalha, e vendo nele a proposta de trabalhar com alunos da faculdade
de educação, desenvolvendo oficinas, e estudos para trabalhar com os alunos da
escola, ou seja, tanto o PIBID, propunha uma aproximação da universidade com a
escola, como se caracterizava um momento oportuno, das alunas bolsistas e das
professoras supervisoras trocarem experiências de formação e produzirem o
conhecimento, pois trabalham juntos, complementando-se nas atividades que
realizam.
O nosso trabalho
enquanto supervisora do PIBID é ajudar e incentivar os bolsistas “futuros
professores” a se prepararem para formação. Marcamos encontros prévios para
socializarmos nossas experiências e traçar metas e ações, adequadas ao
fortalecimento da formação docente, possibilitando atividades acompanhadas e
orientadas, com objetivo de criar novas ferramentas a serem utilizadas para
melhorar a qualidade do ensino aprendizagem. Como sabemos a formação e a
prática docente são complementares, estão interligadas, a elaboração do
conhecimento não é linear, do professor para o aluno, ou do formador para o
formando (Professora da educação básica – Mossoró/RN, junho de 2012).
Segundo a professora
narradora, o papel de quem ensina e de quem aprende integram-se. Daí a
importância do PIBID, em propiciar momentos de partilha de experiências entre bolsistas
e professores supervisores para uma melhor formação profissional e atuação. Ela
infere que o conhecimento não é linear, e que a produção e difusão deste, no caso
do PIBID, esta acontecendo tanto dos bolsitas para os professores como vice e
versa que há ai uma troca de experiências que faz surgir dia a dia novas vivencias.
Aprender a expor suas sensibilidades, aprender a expor-se nas suas
sensibilidades para entrar em relações mais abertas e profundas é redescobrir
que o sentido e o quadro se dão a conhecer através da ordenação de palavras
escolhidas e das articulações induzidas pelos encadeamentos proposicionais; é
tomar consciência do “pronto a vestir” da nossa linguagem e de contextos que influenciam
as nossas representações, para descobrir as potencialidades poéticas da
linguagem e dar conta de uma singularidade (JOSSO, 2002:
135).
Com a escrita da
narrativa autobiográfica, a subjetividade configura-se como elemento
constitutivo das representações sobre o vivido. O ato de rememorar a partir da
interiorização e exteriorização nos faz apreender no tempo e no espaço a
organização das lembranças pessoais e profissionais numa perspectiva de
formação e autoformação, o processo em que esta inserida o ato de narrar-se
leva não somente o ator a reviver a história de vida, mas leva os envolvidos
nesse processo (o que escuta e o que lê) a apreender práticas e refletir sobre
o percurso vivido, é um novo experimento, vivenciado novamente através das
lembranças e da apreensão dessas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante
de tudo que foi exposto, percebemos, que além de expor a trajetória de vida e a
formação da professora da educação básica, possibilita através da autobiografia,
reviver, e produzir novos conhecimentos acerca da formação continuada desta,
como contribui para a formação continua dos que estão em torno da mesma. Ela (a
professora) aprimora sua experiência através da reflexão de sua prática.
A
formação e autoformação que esta narrativa autobiográfica proporciona, alarga
os limites do processo formativo, pois o ato de reviver o processo de formação
partindo do olhar de autor da própria história, apreendendo e refletindo a
práxis vivenciada, a formação antes e o processo no qual se encontrar trás a
tona uma série de discursos permeados de inferências de toda uma trajetória que
não se iniciou quando está professora entrou no curso de magistério, mas que
vem sendo aprimorado desde que ela iniciou sua vida escolar, isso fica evidente
em suas palavras.
Diante
disso, constatamos que a formação se dar num processo continuo, onde o
conhecimento, que evidenciado pela professora narradora, não é de forma linear
do professor ao aluno, mas que este se constrói nas discussões, nos estudos,
mediante o planejamento da escola dia após dia, sendo para isso necessário
muita dedicação.
A
narrativa autobiográfica se caracterizou não só em um momento de reflexão de
uma trajetória de vida e de experiência com a docência, mas em um momento único
de reflexão da ação, onde não somente o que narra rememora e revive o
acontecido, mas o que escuta apreende a vivencia e amplia seus saberes assim
como o que narra amplia a visão e avalia seu percurso de vida.
A
formação continuada esteve presente em todo o percurso desse trabalho, a
narrativa de vida, os valores levantados, as informações selecionadas pela
professora demonstra o seu desejo de ampliar seus saberes. Esse momento de
narrar se constituiu em um momento onde a professora se percebeu atuante de sua
própria história, como autora de sua própria vivencia ao relatar as
experiências ela revive, e possibilita uma nova aprendizagem, a de quem se
percebe como produtor de uma experiência de uma vida. O que leva a compreensão
da natureza desses saberes, e do papel que ela, enquanto narradora desempenha
tanto no processo do trabalho docente, na sua atuação, quanto em relação à
identidade profissional de ser professora.
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VIGOTSKI, Lev S. A Construção do Pensamento e da Linguagem. São Paulo: Martins
Fontes, 2001.
[1] Aluna da graduação em Pedagogia
da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte –
FE/UERN. Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência –
PIBID - com financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior –
CAPES.
[2] Professora da rede básica de
ensino e bolsista supervisora do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação
à Docência – PIBID - com financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior - CAPES.
[3] Professora da Faculdade de
Educação da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Doutora em
Psicologia da Educação no Programa de Estudos de Pós-Graduados da PUC-SP.
Coordenadora de Área de Gestão de Processos Educacionais do Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID-CAPES-UERN.
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