quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

TRABALHO APRESENTADO NO V CIPA - CONGRESSO INTERNACIONAL DE (AUTO)BIOGRÁFIA


NARRATIVAS (AUTO)BIOGRÁFICAS: A VIDA, A  DOCÊNCIA E A FORMAÇÃO CONTINUADA

EIXO TEMÁTICO: II. MEMÓRIA, DIMENSÕES SÓCIO-HISTÓRICAS E TRAJETÓRIAS (AUTO)BIOGRÁFICAS


Maria Cleonice Soares (Aluna graduação FE/UERN)[1]
Geisa Maria Fagundes (Professora da Rede pública e vinculada a FE/UERN)[2]
Silvia Maria Costa Barbosa (Professora Dra da UERN)[3]



RESUMO
O tema formação de professor, nas últimas décadas, vem se constituindo em palavra de ordem nos documentos oficiais, nas reformas educativas, nos acontecimentos científicos sobre Educação, nos cursos de licenciaturas, cursos de atualização, cursos de especialização voltados para a formação do professor e em todos os ambientes que requerem a presença e a prática desse profissional. São discussões que giram em torno da formação do professor, mas principalmente sobre a atividade pedagógica, saberes docentes, profissionalização docente, professor reflexivo, identidade do professor, planejamento, avaliação, estratégia de ensino, ensino e tantas outras discussões advindas das necessidades vigentes dos educadores. Na sua atividade pedagógica de ensinar, o professor recorre inevitavelmente às técnicas que o auxiliarão a um ensino melhor, como por exemplo: planejar suas atividades diárias, na perspectiva de como fazer, saber fazer, para que fazer, para quem fazer e avaliar continuamente as atividades e, principalmente, mediar o saber cotidiano do aluno, com o saber intelectual historicamente construído pelas gerações. Ao professor é atribuído o papel de rever, simultaneamente, dentre outros aspectos, os currículos prescritos e vividos, os valores e normas difundidas pela sociedade, as experiências pedagógicas vividas e, sobretudo, a necessidade em canalizar esforços tendo em vista o compromisso de inovar sua prática pedagógica para atender às necessidades vigentes. Preocupados com a melhoria da qualidade da educação e, consequentemente, com a formação do professor, vários países do primeiro mundo, França, Espanha, Portugal, entre outros, reformularam seus cursos de licenciaturas, tendo em vista melhorar a preparação deste profissional para atuar no ensino. Podemos afirmar que o ato de ensinar como expressa Roldão (2005) é complexo, e ele ainda afirma que se quisesse ser uma professora hoje no 1º ciclo, precisaria adquirir mais saberes científicos do que tem hoje, tendo em vista a especificidade e abrangência dos conteúdos, como por exemplo, do campo da linguística, da construção cognitiva do cálculo matemático, além dos conhecimentos geográfico, histórico e das ciências, necessários ao ensino de crianças desse ciclo. Não se pode pensar num professor que não esteja constantemente voltado para estudos, para pesquisa e para ampliação de seus conhecimentos. Esse professor deve estar preocupado com suas atividades pedagógicas, com os processos avaliativos, com a elaboração dos planos de aulas, com a descontinuidade dos estudos. Tudo isso tem relação com o saber, que implica desejo, vontade de fazer bem e de aprender cada vez mais. Para Charlot (2005, p. 76), “uma aprendizagem só é possível se for imbuída de desejo (consciente ou inconsciente) e se houver um envolvimento daquele que aprende”. Ele deve ser capaz de estabelecer relações entre os vários conhecimentos sobre o mundo e situá-los no tempo histórico para seus alunos. Com o objetivo de conhecer um pouco da história e trajetória de vida de uma professora dos anos iniciais do Ensino Fundamental realizamos uma pesquisa autobiográfica para conhecermos as suas expectativas ao se tornar professora. Essa pesquisa surgiu da nossa participação como bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID, que tem a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES – como agência de fomento e a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN, tendo assim, a integração entre Universidade e Escolas para a formação inicial e continuada de professores da Educação Básica. Neste sentido, buscamos conhecer os sentidos e significados que a professora tem a respeito de ser professora. Buscamos fundamentar nossa análise e interpretação dos dados em dois eixos: em primeiro lugar faremos uma discussão sobre a formação do professor levando em consideração como Finger (1984); Josso (2002); Nóvoa (1995) Tardif (2002); em segundo lugar iremos discutir os fundamentos teóricos de L. S. Vigotski (2001), Aguiar e Ozella (2006) que tratam o sujeito como histórico, social e único. Para obtermos a produção dos dados em primeiro lugar realizamos uma entrevista com a professora com quatro questões norteadoras: 1) Conte-me um pouco da sua história de vida; 2) Quais as suas expectativas ao ser tornar professora?; 3) Qual tipo de escola você estudou e se formou?; Quanto tempo de experiência profissional?; 4) Fale-nos sobre o PIBID-UERN e o trabalho que você tem desenvolvido nele e comente os pontos positivos e negativos nessa sua experiência. Assim este trabalho se divide em três momentos, o primeiro conta um pouco da historia de vida da professora; no segundo revemos sua formação no magistério e em seguida como pedagoga e o seu trabalho em duas escolas, uma publica e outra privada; e por fim sua vivencia como bolsista do PIBID-UERN e a contribuição deste em sua vida, e como a mesma vem atuando na perspectiva de contribuir para a formação inicial do fazer pedagógica dos alunos bolsistas do Curso de Pedagogia. Nessa perspectiva, constamos que o trabalho com autobiografia do educador, além de ser um espelho de sua atuação pedagógica, ainda é uma autoconfirmação das ações didáticas deste profissional em sala de aula, podendo ele através desta narração compreender seu trabalho de outra dimensão, reforçando suas ações e revendo os pontos onde considera que deve melhorar. Concluímos que  a pesquisa autobiografia revelou não só o percurso da professora em sua vida pedagógica, mas demonstrou que o PIBID/CAPES/UERN tem contribuído significativamente para o seu desenvolvimento intelectual, bem como tem sido um meio que possibilita reciprocamente o trabalho pedagógico como também apreendido novos meios educacionais, pois segundo a mesma, o programa apresenta proposta que ela muitas vezes utilizava, mas com o programa pôde ter mais acesso a formação teórica que sentia falta. Assim considera este programa como uma confirmação de  ações que possibilita estudos, projetos de ensino, oficinas pedagógicas e construção de material didático. Por fim a pesquisa autobiográfica possibilitou um aprofundamento maior, além dos conhecimentos pedagógicos, pois permitiu a confirmação das ações pedagógicas exercidas pela professora pesquisada, afirmando suas ações como educadora que procura ampliar sua formação continuada. Assim a pesquisa autobiográfica revelou-nos ser um instrumento ímpar na construção de aprendizagens e consolidação de troca de saberes entre as alunas bolsistas que realizaram a pesquisa e a professora da rede básica que narrou os fatos marcantes da de sua vida.


PALAVRAS CHAVE: Narrativas (auto)biográficas; vida docente; formação continuada.


INTRODUÇÃO
           
            A formação docente do pedagogo segue uma serie de etapas, que vem desde a educação primaria até sua formação superior. Este trabalho (auto)biográfico apresenta o percurso formativo de uma professora da educação básica, até os dias atuais em sua práxis e formação continuada através da participação da mesma como bolsista supervisora no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à docência (PIBID), que tem financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) em parceira com a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).
            O objetivo deste trabalho é traçar o caminho formativo desta professora, como também exaltar a relevância de se narrar a (auto)biografia dela como forma de rever e vivenciar a prática desta, bem como, analisar o percurso didático pedagógico no qual se processou a sua formação e atuação ao longo dos anos escolares até se encontrar com o PIBID e como este vem contribuído para a sua formação em serviço e como ela possibilitado aos alunos bolsista uma troca da sua experiência de anos de magistério com as novas discussões e sugestões a respeito das atividades escolares .
             A nossa pesquisa (auto)biográfica se deu através de entrevista com a professora onde solicitamos que a mesma contasse e respondesse os seguinte questionamentos 1) Conte-me um pouco da sua história de vida; 2) Quais as suas expectativas ao ser tornar professora?; 3) Qual tipo de escola você estudou e se formou?; Quanto tempo de experiência profissional?; 4) Fale-nos sobre o PIBID-UERN e o trabalho que você tem desenvolvido nele e comente os pontos positivos e negativos nessa sua experiência; Além da entrevista buscamos referenciais teóricos como Finger (1984); Josso (2002); Nóvoa (1995); Souza (2006); Tardif (2002); dentre outros que abordam a relevância de se escrever sobre a vida profissional dos professores, bem como sua trajetória docente.
             Assim este trabalho se divide em três momentos, o primeiro conta um pouco da historia de vida da professora; no segundo revemos sua formação no magistério a atuação como pedagogo (docente) e o seu trabalho em duas escolas: uma pública e outra privada; e por fim sua vivencia no PIBID e a contribuição deste em sua vida, e como a mesma atua contribuído para formação didática pedagógica dos alunos bolsistas.
            Diante de tudo isso, percebemos a relevância da realizar trabalhos (auto)biográficos com os professores, pois ao utilizar-se da abordagem autobiográfica como possibilidade de autoformação, evidencia-se colocar o sujeito como produtor de um conhecimento sobre si, sobre os outros e sobre o cotidiano, revelando-se através da subjetividade, da singularidade e das experiências dos saberes que construiu-se ao longo de sua trajetória pessoal e profissional, Souza (2006). Na perspectiva de Vigotski (2001) o homem é um ser social, haja vista estabelecer relações com outros homens e constituir-se a partir dessas relações. Nessa abordagem vigtskiana a aprendizagem se desenvolve através das interações sociais, já que o ser humano é uma síntese de múltiplas determinações, transformando e sendo transformado pelos inúmeros processos de desenvolvimento que compõem essas relações. Para a Psicologia Sócio-Histórica, o homem é um ser histórico, social e único, ao mesmo tempo.

HISTÓRIA DE VIDA E A FORMAÇÃO PEDAGÓGICA

            Neste trabalho usamos a (auto)biografia para evocar elementos da formação e práxis pedagógica de uma professora da educação básica dos anos iniciais. Usamos da abordagem autobiográfica, pois esta nos assegura a possibilidade de autoformação, já que colocar o sujeito como produtor de um conhecimento sobre si. Invocamos primeiramente a vivencia profissional de uma professora da rede básica de ensino, onde se encontra atuando como docente nas séries iniciais há 22 anos. A professora ao narrar sua viva, revive sua história e trás de suas vivencias os elementos mais importantes que constituem sua trajetória de vida. Nesse momento ao observar a forma de narrar sua história podemos inferir que a mesma se enxerga como autora de sua história, mas encontra-se como narradora, vivenciando e revivendo momentos que constituem sua história.

A centralidade do sujeito no processo de investigação-formação sublinha a importância da abordagem compreensiva e das apropriações da experiência vivida, das relações entre subjetividade e narrativa como princípios, que concede ao sujeito o papel de ator e autor de sua própria história (SOUZA, 2006 p. 36).

            A professora a qual escrevemos sobre suas experiências, leciona em uma escola da Rede Estadual de Educação Fundamental, da cidade de Mossoró/RN, desde 1997, ela tem Licenciatura Plena em Pedagogia, turma de 1997/UERN. Nasceu na mesma cidade em que atual como professora. Ela relata que dos três aos dezoitos anos morou na cidade de Itaú/RN, onde cursou da primeira série primária até a oitava série do antigo Ginasial.
Segunda a mesma naquela época em que concluiu o 1º grau, não havia escola de 2º grau na cidade em que residia, assim, ela se deslocava todos os dias para a cidade de Pau dos Ferros/RN, lá estudou na Escola Estadual 31 de Março, e conforme relato: “fiz o curso Técnico em Ciências Contábeis”.
Com a conclusão deste curso a professora no final de 1982, voltou para a cidade de Mossoró/RN, onde trabalhou como operária e bancária. Foi quando decidiu voltar a estudar para ser professora, um sonho de sua mãe, que a mesma define como mulher de grande força de vontade e coragem. Como já trabalhava pôde pagar o curso do Magistério, confessa que foi durante o tempo que estava cursando o Magistério, que se apaixonou pela profissão.
Percebemos pelos relatos da professora que desde sua mocidade ela pretendia atuar como educadora apreendemos isso ao analisarmos sua história de vida. Entendemos com isso que ao refazer sua história de vida através de um exercício de memória, permitiu analisar as condições e contextos em que desenvolveu suas experiências, permitindo assim que ambos: narrador e pesquisador compreendesse as especificidades e aproximações com as histórias de outros sujeitos.
Segundo Josso (2002, p.08) “[...] a consciência nasce quando interpretamos um objeto com o nosso sentido autobiográfico, a nossa identidade e a nossa capacidade de anteciparmos o que há de vir.” A leitura da narrativa (auto)biográfica da professora traz novos diálogos a formação do educador, tanto a narradora quanto o pesquisador. Ela (a professora) revive sua história de vida e com isso a flora aspectos relevantes da formação através dos fatos narrados, sendo perceptível às mudanças de expressão na mesma, a cada novo fato, a cada experiência revivida. Quando perguntamos pelas professoras da graduação, quais ela recorda e cita duas em especial, segue o relato:

E relembrando mestres de diversas fases de minha vida, vou me concentrar em duas professoras queridas, ambas exigentíssimas. Porém, justas, generosas e incentivadoras. A primeira Ana Gomes (4º ano primário), a outra Joana Darc (Magistério). As duas exigiam atenção e trabalho, eram justas: nunca deixavam de ter uma palavra de reconhecimento ao esforço feito. Eu estudava para agradá-las, para vê-las satisfeitas comigo (Professora da educação básica – Mossoró/RN, junho de 2012).

As escolas onde passou deixaram marcas em sua própria formação, a professora, ao lembrar-se de suas professoras, destaca duas, que além de marcar sua vida, usa-as como referencia profissional. Quando a esse relato, percebemos que o esforço primeiro, com os estudos, se dava para agradar as professora que ela admirava, na sua fala é possível compreender que ela se espelhava nas professoras que ela tinha como referencia, e que isso foi relevante no decorrer de sua formação.
Quando já formada, conta que se submeteu a uma seleção, através de uma prova, onde foi selecionada em 2º lugar, para exercer a função de professora dos anos iniciais do Ensino Fundamental em uma escola particular na cidade de Mossoró/RN. Relata que reencontrou a professora Joana Darc, do Magistério, agora exercendo a função de supervisora na referida escola. Percebemos na sua fala a satisfação pessoal, a alegria, de agora esta diante de sua ex-professora, exercendo a profissão, ou seja, nesse momento elas não se encontravam mais como professora/aluna, mas colegas, mas ainda assim relata que: “nos tornamos amigas, Joana se transformou num referencial ético e profissional”. E continua: “Sempre quis ser uma profissional tal qual minha antiga professora com a mesma competência e coragem”. Notamos que o respeito a sua professora se solidificava, e agora se espelhava mais ainda na colega de profissão, a quem sempre irá se dirigir como sendo sua professora.
Em 1990, a professora, passou em um concurso público onde leciona até hoje como professora Permanente no Nível III – em uma escola da rede Estadual de Ensino. No decorrer de sua atuação trabalhou como Coordenadora Pedagógica na mesma escola, em um período de um ano. Atuou ainda, nos anos de 1996 a junho/2011- em uma escola particular, da qual se desvinculou para participar da seleção para ser supervisora bolsista do PIBID/UERN, programa no qual se encontra vinculada atualmente, e no qual acredita, esta tendo a oportunidade de ter uma formação continuada, pois pretende fazer uma pós- graduação.
Com este estudo no que se refere aos saberes da docência, as relações entre história de vida, desenvolvimento pessoal e profissional, reafirmamos a necessidade de atentarmos para uma escuta sensível à voz dos professores. A professora sinaliza para sua formação e suas expectativas como professora ao longo de sua história, interessante é que ela ainda demonstra sede de conhecimento, na sua fala ela expõe o inacabamento profissional e pessoal que nos fala Freire (1996), ela revive e aprimora os conhecimentos.

Depois, de voltar à mesma universidade vejo que, muito mudou, os professores planejam atividades mais criativas dando oportunidade do aluno ter uma atitude permanente de curiosidade epistemológica intelectual, desejando enriquecer seu repertório de ideias e experiências, o PIBID é um exemplo disso, esse Programa leva não só os alunos, mas nós professores envolvidos a ter novas experiências, e ver com novos olhares, vejo o meu aluno com outros olhos, com o olho que quem esta começando de novo. (Professora da educação básica – Mossoró/RN, junho de 2012).

Percebemos na fala da professora que ela está revivendo sua práxis a partir de um novo olhar, ela esta refletindo sobre o fazer pedagógico que já tem, mas esse novo olhar que ela enfatiza, faz com que ela aprimore o conhecimento, e aperfeiçoe a prática. As suas expectativas como professora foram inicialmente almejadas a partir da observação da prática de suas ex-professoras, mas agora extrapola, dando-lhe novo sentindo ao ator de educar e educar-se. Tardif (2002) expõe quanto a isso, que a pesquisa insere-se sobre a epistemologia da prática profissional dos educadores como um dos principais elementos concernentes à formação destes na contemporaneidade.

A finalidade de uma epistemologia da prática profissional é revelar esses saberes, compreender como são integrados concretamente nas tarefas dos profissionais e como estes os incorporam, produzem utilizam, aplicam e transformam em função dos limites e dos recursos inerentes às suas atividades de trabalho. Ela também visa compreender a natureza desses saberes, assim como o papel que desempenham tanto no processo de trabalho docente quanto em relação à identidade profissional dos professores (TARDIF, 2002 p.11).
           
            Nas narrativas autobiográficas da professora, apreendemos enquanto ouvintes não só a sua experiência de vida, mas também nos apropriamos dos fatos narrados. Todo o tempo à professora se remete a sua experiência profissional, aos seus saberes/fazeres pedagógicos, ela compreende a noção desses saberes e o movimento epistemológico onde eles são “testados”, criado e reinventados, ou seja, notamos que a práxis a qual se remete como sendo a sua, esta ao longo dos 22 anos de profissão passando por uma série de mudanças através da continua formação que esta se submetendo, percebemos que ela atua enquanto esta em pleno processo de formação, ela busca isso, ela não se aquieta, porém, todavia, se inquieta com o novo, ela nos revela, bem mais que sua atuação, nos revela o movimento da apreensão do saber/fazer docente que se revela continuo no decorrer de sua atuação.

PERCURSO DOCENTE: UMA PAIXÃO DE MUITAS FACES

            A narração autobiográfica da professora da educação básica permitiu a esta um autoquestionamento de sua práxis, a mesma refletiu várias vezes sobre sua tarefa de educar, ensinar e cuidar, e relatou:

Ser professora nunca foi uma tarefa fácil. Atualmente, porém, está mais difícil exercer o trabalho docente. A falta de limites das crianças e de motivação da maioria dos nossos alunos tornaram-se alguns dos maiores problemas enfrentados pelos educadores. Hoje, temos que ter bom domínio de conteúdo, consciência profissional, boa relação afetiva, liderança, autoridade e acima de tudo trabalhar valores. Pois, sabemos que a maioria das famílias perdeu a autoridade sobre os filhos e pressionam a escola para fazerem em seu lugar. Mas, apesar de requerer força de vontade e trabalho árduo é muito gratificante (Professora da educação básica – Mossoró/RN, junho de 2012).

As palavras dela mostram mais que sentido, ela se debruça sobre sua experiência, compara, se inquieta, e mostra que apesar da mudança, ela também mudou. Enfrenta essa nova etapa como possibilidade de conhecimento e formação. Entendemos com isso que as representações construídas pelo sujeito na narrativa, evidenciam-se a partir de momentos que marcaram sua vida, ou seja, evidencia àqueles momentos que foram formadores e de conhecimento em sua trajetória pessoal e de escolarização.

Nestes momentos-charneira, o sujeito confronta-se consigo mesmo. A descontinuidade que vive impõe-lhe transformações mais ou menos profundas e amplas. Surgem-lhe perdas e ganhos e, nas nossas interações, interrogamos o que o sujeito fez consigo próprio ou o que de si mesmo para se adaptar à mudança, evita-la ou repetir-se na mudança (JOSSO, 1988, p. 44)

            Assim percebemos que a mesma revive e rememora sua história de vida, nos momentos que o autor acima citado chama de “momentos-charneira”, onde ela confronta-se consigo mesma e aprimora sua experiência através da memória e possibilita o conhecimento de sua experiência aos que ouvem, e ao leitor de sua história de vida.
A professora conta que mesmo após ter terminado o curso de magistério ingressou na faculdade de pedagogia em 1993, na antiga FURRN (Fundação Universidade Regional do Rio Grande do Norte), onde atualmente é a UERN (Universidade do estado do Rio Grande do Norte), seu desejo era aprimorar mais seus conhecimentos pedagógicos. Relata que percebeu diferenças no decorrer da formação e que foi muito gratificante ter cursado a graduação.

No Magistério os conhecimentos são transmitidos de forma mais superficial e muitas vezes, distantes da real conjuntura educativa. Já no curso de Pedagogia percebe-se uma ligação teórica e prática destinada a clientela que temos atualmente nas escolas. Além de realizar mais pesquisas e estudos que nos embasam enquanto profissional. Na época em que fiz faculdade os conhecimentos teóricos eram mais focalizados. Hoje, estimulam mais os alunos a usarem canais diversos de informações e aprendizagem.  Os professores promovem mais atividades didáticas mais interessantes, o alunado tem um envolvimento maior com a praticidade da sala de aula mais cedo, antes nosso primeiro contato com a escola era somente no quinto período (Professora da educação básica – Mossoró/RN, junho de 2012).

A professora, ao relatar sua experiência enquanto aluna do magistério faz uma comparação com o que vivencia, nos dias atuais na faculdade de educação através do PIBID, ela faz inferências sobre o perfil do professor formado antigamente o que agora tem a oportunidade de vivenciar através da aproximação que vive com a universidade e com as alunas do curso de Pedagogia.
A esse respeito relata que percebe a diferença na formação de antes e de agora, pois fazia muito fichamento e seminários, estudava textos em grupos e depois, apresentava para a turma, os professores ficavam ali sentados apenas assistindo, poucos interviam nas exposições. Outros faziam somente provas escritas e ainda queriam as respostas tal quais estavam nos livros, dificilmente expunham as suas opiniões. Enfatiza que, depois, de voltar a mesma universidade vê que, além de mudar o nome, a Universidade também mudou o ensino, ver que os professores planejam atividades mais criativas, oportuniza aos alunos desenvolverem uma atitude permanente de curiosidade epistemológica intelectual, que faz os alunos a interagir com o saber que esta em movimento e diz que o PIBID é um exemplo disso.
Diante disso, a abordagem autobiográfica apresentou-se como um processo de autoformação. Pois a partir desta, a professora expôs a sua vida e vivencia profissional, fez relações da formação, autoformação como sendo o meio mais amplo e social do individuo. O esforço pessoal de explicitação de uma dada trajetória de vida faz emergir ao mesmo tempo a contribuição para uma tomada de consciência individual e coletiva do processo de formação que se segue. Ferrarotti (1988, p. 27) nos adverte que: “[...] todo ato individual é uma totalização sintética de um sistema social. Toda a narrativa de um acontecimento ou de uma vida é, por sua vez, um ato, a totalização sintética de experiências vividas e de uma interação social”.

PIBID/UERN CONTRIBUIÇÕES A FORMAÇÃO CONTINUADA

            A formação continuada sempre foi um discurso que permeou a vida profissional de qualquer professor, porém nem todos participam desse processo, por diversos fatores. A professora relata que a oportunidade de vivenciar novamente a formação veio através do PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência), vinculado a Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN), financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior do Ministério da Educação (CAPES/MEC), pois o programa não só oferece bolsas de iniciação à docência aos alunos de licenciatura, como também oportuniza a professores de escolas públicas participar ativamente do projeto como supervisores na própria escola onde lecionam, atuando como coformadores no processo de iniciação à docência, em conjunto com o formador da universidade.
            A professora relata que conheceu o projeto quando o mesmo foi levado à escola em que ela trabalha, e vendo nele a proposta de trabalhar com alunos da faculdade de educação, desenvolvendo oficinas, e estudos para trabalhar com os alunos da escola, ou seja, tanto o PIBID, propunha uma aproximação da universidade com a escola, como se caracterizava um momento oportuno, das alunas bolsistas e das professoras supervisoras trocarem experiências de formação e produzirem o conhecimento, pois trabalham juntos, complementando-se nas atividades que realizam.

O nosso trabalho enquanto supervisora do PIBID é ajudar e incentivar os bolsistas “futuros professores” a se prepararem para formação. Marcamos encontros prévios para socializarmos nossas experiências e traçar metas e ações, adequadas ao fortalecimento da formação docente, possibilitando atividades acompanhadas e orientadas, com objetivo de criar novas ferramentas a serem utilizadas para melhorar a qualidade do ensino aprendizagem. Como sabemos a formação e a prática docente são complementares, estão interligadas, a elaboração do conhecimento não é linear, do professor para o aluno, ou do formador para o formando (Professora da educação básica – Mossoró/RN, junho de 2012).

Segundo a professora narradora, o papel de quem ensina e de quem aprende integram-se. Daí a importância do PIBID, em propiciar momentos de partilha de experiências entre bolsistas e professores supervisores para uma melhor formação profissional e atuação. Ela infere que o conhecimento não é linear, e que a produção e difusão deste, no caso do PIBID, esta acontecendo tanto dos bolsitas para os professores como vice e versa que há ai uma troca de experiências que faz surgir dia a dia novas vivencias.

Aprender a expor suas sensibilidades, aprender a expor-se nas suas sensibilidades para entrar em relações mais abertas e profundas é redescobrir que o sentido e o quadro se dão a conhecer através da ordenação de palavras escolhidas e das articulações induzidas pelos encadeamentos proposicionais; é tomar consciência do “pronto a vestir” da nossa linguagem e de contextos que influenciam as nossas representações, para descobrir as potencialidades poéticas da linguagem e dar conta de uma singularidade (JOSSO, 2002: 135).

Com a escrita da narrativa autobiográfica, a subjetividade configura-se como elemento constitutivo das representações sobre o vivido. O ato de rememorar a partir da interiorização e exteriorização nos faz apreender no tempo e no espaço a organização das lembranças pessoais e profissionais numa perspectiva de formação e autoformação, o processo em que esta inserida o ato de narrar-se leva não somente o ator a reviver a história de vida, mas leva os envolvidos nesse processo (o que escuta e o que lê) a apreender práticas e refletir sobre o percurso vivido, é um novo experimento, vivenciado novamente através das lembranças e da apreensão dessas.


CONSIDERAÇÕES FINAIS
             
            Diante de tudo que foi exposto, percebemos, que além de expor a trajetória de vida e a formação da professora da educação básica, possibilita através da autobiografia, reviver, e produzir novos conhecimentos acerca da formação continuada desta, como contribui para a formação continua dos que estão em torno da mesma. Ela (a professora) aprimora sua experiência através da reflexão de sua prática.
            A formação e autoformação que esta narrativa autobiográfica proporciona, alarga os limites do processo formativo, pois o ato de reviver o processo de formação partindo do olhar de autor da própria história, apreendendo e refletindo a práxis vivenciada, a formação antes e o processo no qual se encontrar trás a tona uma série de discursos permeados de inferências de toda uma trajetória que não se iniciou quando está professora entrou no curso de magistério, mas que vem sendo aprimorado desde que ela iniciou sua vida escolar, isso fica evidente em suas palavras.
            Diante disso, constatamos que a formação se dar num processo continuo, onde o conhecimento, que evidenciado pela professora narradora, não é de forma linear do professor ao aluno, mas que este se constrói nas discussões, nos estudos, mediante o planejamento da escola dia após dia, sendo para isso necessário muita dedicação.
A narrativa autobiográfica se caracterizou não só em um momento de reflexão de uma trajetória de vida e de experiência com a docência, mas em um momento único de reflexão da ação, onde não somente o que narra rememora e revive o acontecido, mas o que escuta apreende a vivencia e amplia seus saberes assim como o que narra amplia a visão e avalia seu percurso de vida.
            A formação continuada esteve presente em todo o percurso desse trabalho, a narrativa de vida, os valores levantados, as informações selecionadas pela professora demonstra o seu desejo de ampliar seus saberes. Esse momento de narrar se constituiu em um momento onde a professora se percebeu atuante de sua própria história, como autora de sua própria vivencia ao relatar as experiências ela revive, e possibilita uma nova aprendizagem, a de quem se percebe como produtor de uma experiência de uma vida. O que leva a compreensão da natureza desses saberes, e do papel que ela, enquanto narradora desempenha tanto no processo do trabalho docente, na sua atuação, quanto em relação à identidade profissional de ser professora.
           
           

REFERÊNCIAS

AGUIAR, Wanda Maria J. OZELLA, Sergio. Núcleos de Significação Como Instrumento Para a Apreensão da Constituição dos Sentidos. Psicologia: Ciência e Profissão. 2006, 26 (2), 222-245.

CHARLOT, Bernard. Relação Com o Saber, Formação de Professores e Globalização: questões para a educação hoje. Porto Alegre: Artmed, 2005.

FERRAROTTI, Franco. Sobre a autonomia do método biográfico. In: Nóvoa, António; Finger, Mathias. O método (auto)biográfico e a formação. Lisboa: MS/DRHS/CFAP, 1988.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia – saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

GOODSON, Ivor F. Dar voz ao professor: as histórias e suas identidades: o desvelamento da heterogeneidade.In: NÓVOA, Antônio. Vidas de professores. Porto, 1995.

HUBERMAN, Michael. O ciclo de vida profissional dos professores. In: NÓVOA, Antônio. Vidas de professores. Porto: Porto, 1995. 11

JOSSO, Marie Christine. Da Formação do sujeito... ao sujeito da formação. In: Nóvoa, António; Finger Mathias. O método (auto)biográfico e a formação. Lisboa: MS/DRHS/CFAP, 1998.

____________________. Experiências de vida e formação. Lisboa: Educa, 2002.

NÓVOA, António (org.). Vida de professores. Porto: Porto, 1995.

___________________. Profissão Professor. Porto: Porto, 1995. PAIS. José Machado. Vida Cotidiana: Enigmas e revelações. São Paulo, Cortez, 2003.

ROLDÃO, M. C. Formação e práticas de gestão curricular: crenças e equívocos. Porto: Edições Asa, 2005.     

SANTOS, Boaventura de Sousa. Um discurso sobre as ciências. Porto: Afrontamento, 1993.

SOUZA, Elizeu Clementino. O conhecimento de si: Estágio e narrativas de formação de professores. Rio de Janeiro: DP&A, Salvador, BA: UNEB, 2006.

TARDIF, Maurice. Saberes Docentes e formação profissional. Trad. Francisco Pereira. Petrópolis: Vozes, 2002.

VIGOTSKI, Lev S. A Construção do Pensamento e da Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2001.


[1] Aluna da graduação em Pedagogia da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – FE/UERN. Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID - com financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior –                                                                                                                                                                                                                                                                           CAPES.
[2] Professora da rede básica de ensino e bolsista supervisora do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID - com financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES.
[3] Professora da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Doutora em Psicologia da Educação no Programa de Estudos de Pós-Graduados da PUC-SP. Coordenadora de Área de Gestão de Processos Educacionais do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência – PIBID-CAPES-UERN.

Nenhum comentário:

Postar um comentário