ARTICULAÇÕES ENTRE O PERCURSO DE UM
PROJETO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A SOCIEDADE DE CONSUMO
Maria Cleonice SOARES – UERN/
cleonice_s@hotmail.com [1]
Iáskara Michelly de Medeiros SILVEIRA
– UERN/ iaskarasilveira@hotmail.com [2]
Rayane Carla B. da SILVA – UERN/
rayane_carlabs@hotmail.com [3]
Louise Duarte Matias de AMORIM –
UERN/ louiseuern@yahoo.com.br [4]
RESUMO
As problemáticas
envolvendo o tema sociedade de consumo são bastante abordadas no meio social em
que vivemos. A preocupação com o destino do lixo produzido por essa sociedade
tem mobilizado instituições apesar de ainda não haver uma solução concreta para
o problema. O consumismo é algo arraigado em nossas vidas e continua sendo
estimulado principalmente pelos meios de comunicação. O Projeto
“Divulgando a Educação Ambiental na Construção de Saberes e Exercício da
Cidadania na Escola Pública em Mossoró-RN,” tenciona mostrar através do
desenvolvimento de atividades com alunos e professores de escolas públicas,
entre outras coisas, possibilidades, alternativas capazes de
proporcionar a melhoria da qualidade de vida das comunidades escolares, sem
causar danos ao meio ambiente. Este trabalho aborda o tema de uma oficina
específica, na qual o nosso direcionamento apontou para a seguinte pergunta:
Que sociedade queremos no futuro? Nos baseamos
autores que abordam a questão do consumo tais como: Adorno (1996);
Baudrillard (1995); Carvalho (2004); Debord (1992); Lima (1990); Marx (1974);
Moles (1975); Padilha, (2006) e Santos (1998). Na oficina inicialmente pedimos para
que os alunos respondessem ao questionamento através da confecção de cartazes
utilizando imagens que poderiam ser extraídas de revistas ou produzidas por
eles. Após a problematização, apresentamos o vídeo “A História das Coisas” de Annie Leonard
(2007), que
desencadeou uma discussão em sala levando ao conhecimento dos alunos todo o
ciclo produtivo dos bens de consumo e o quanto somos vitimas conscientes desse
ciclo ininterrupto de trabalho/consumo. Ao final das discussões os alunos
puderam apresentar seus cartazes e perceber em suas próprias falas a restrição
quanto aos itens inicialmente apontados por eles como essenciais a vida de uma
sociedade, agregando outros valores como indispensáveis a sociedade que almejam
pro seu futuro. Com isso percebe-se a necessidade urgente do fazer ambiental
face aos desafios da contemporaneidade.
Palavras-chave: construção de
saberes; consumismo; recursos ambientais; valores sociais.
Abstract
The issues involving the theme consumer society are
very stated in the social context in
which we live. The worry about the destiny of the garbage produced by this
society has mobilized some institutions, although there has not been a concrete
solution to the problem. Consumerism is something ingrained in our lives and it
continues being stimulated mainly by the media. The project “Divulgando a Educação Ambiental na Construção de Saberes e Exercício da
Cidadania na Escola Pública em Mossoró-RN” aims at showing through the
development of activities with public schools’ students and teachers
possibilities, alternatives able to favor the improvement of life quality of
school communities, without damaging the environment. This work addresses the
content of a specific workshop where our direction pointed to the following
question: What society do we want in the future? To answer it, we are based on
authors who address the issue of consumption such as Adorno (1996); Baudrillard
(1995); Carvalho (2004); Debord (1992); Lima (1990); Marx (1974); Moles (1975);
Padilha, (2006) and Santos (1998). In the workshop we asked initially for
students to answer to questions by making posters using images that could be
extracted from magazines or produced by them. After the questioning, we
presented the video "A História das Coisas” by Annie Leonard (2007), which
promoted a discussion in class leading the students to the knowledge of the
production cycle of consumer goods and how
we are victims concerned about this uninterrupted cycle of work /
consumption. At the end of the discussions, the students could present their
posters and notice about their own lines the restriction related to the items
initially pointed by them as essential to the life of any society, adding other
values as essential to the society they want for their future. From the
exposed it is realized the urgent necessity of the environmental acting face to
the challenges of the contemporary world.
Keywords: building of knowledge; consumerism, environmental resources,
social values.
INTRODUÇÃO
As
problemáticas envolvendo o tema sociedade de consumo são bastante abordadas no
meio social que vivemos. Hoje a preocupação com o destino de todo lixo
produzido pelo consumismo tem mobilizado uma série de instituições, todavia, o
problema apesar de bastante discutido não tem apresentado soluções concretas,
pois o consumismo está arraigado em nossas vidas, estamos vivendo em um mundo
que cria necessidades para que compremos coisas (MOLES, 1975).
Preocupados com estas questões,
após termos percebido em alguns casos que os alunos apresentam como essencial a
seu futuro alguns bens de consumo, direcionamos algumas atividades desenvolvidas
nas escolas públicas de Mossoró/RN, através do Projeto “Divulgando
a Educação Ambiental na Construção de Saberes e Exercício da Cidadania na
Escola Pública em Mossoró-RN, para a questão do consumismo exacerbado que leva
à exploração de matérias primas e a uma grande produção de lixo na fabricação
desses bens de consumo. Apresentaremos a visão dos alunos na perspectiva do
consumo em meio a sociedade atual, através de uma atividade desenvolvida em uma
das oficinas, numa turma do ensino médio, ressaltamos, todavia, que esta
oficina teve o direcionamento exclusivo a questão do consumo.
Utilizamos como elemento
provocador o vídeo “A História das Coisas” que apresentado por Annie Leonard
(EUA, 2007) que aborda e enfatiza a questão do consumismo desenfreado e a
produção de lixo e desgaste de recursos naturais com fins lucrativos,
refletindo o modelo capitalista da sociedade moderna. E para a construção deste
texto, nos aportamos em autores tais como: Adorno (1996); Baudrillard (1995);
Carvalho (2004); Debord (1992); Lima (1990); Marx (1974); Moles (1975);
Padilha, (2006) e Santos (1998) que abordam a questão do consumismo na
sociedade atual.
Assim, este trabalho se divide em
três momentos, faremos uma pequena abordagem do Projeto, sua intenção e
objetivos e a relação que o mesmo faz com o consumo através da aplicação das
oficinas, em seguida traremos um pouco da abordagem de como surge o tema
consumismo através da construção de cartazes pelos alunos em uma das oficinas
realizadas, nos quais eles demonstram sua visão de mundo e a perspectiva de
futuro que os mesmos possuem articulando-a ao tema consumismo. Por fim
apresentaremos a abordagem interventiva das oficinas, sobreposta à construção
dos cartazes dos alunos.
Ainda discorreremos acerca da
construção de saberes inerentes ao exercício da cidadania na escola pública
através do programa Novos Talentos, e sobre a visão de consumo exposta pelos
alunos durante a oficina trabalhada enfatizando o novo olhar construído a
partir dos conhecimentos discutidas no decorrer da oficina de Educação
Ambiental.
O PROJETO “DIVULGANDO A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA CONSTRUÇÃO
DE SABERES E EXERCÍCIO DA CIDADANIA NA ESCOLA PÚBLICA EM MOSSORÓ-RN”.
Através
do Programa Novos Talentos criou-se com a aprovação do edital da CAPES/DEB Nº
033/2010
o projeto “Divulgando a Educação Ambiental na Construção de Saberes e Exercício
da Cidadania na Escola Pública em Mossoró-RN”, executado pelo Grupo de Estudos
e Pesquisas em Educação Ambiental, Meio Ambiente e Sustentabilidade (GEEAMAS),
vinculado ao Centro de Estudos e Pesquisas do Meio Ambiente e Desenvolvimento
Regional do Semi-Árido (CEMAD) da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
- UERN, sob a coordenação do Professor Doutor Ramiro Gustavo Valera Camacho[5].
O
projeto tenciona mostrar outras possibilidades, alternativas e técnicas de
exploração dos recursos ambientais capazes de proporcionar a melhoria da
qualidade de vida das comunidades escolares, sem causar danos ao meio ambiente.
Para tanto, o projeto arquiteta dimensionar uma abordagem para a educação
ambiental e propor estratégias metodológicas para trabalhar este conteúdo em
sala de aula, de forma contextualizada, transversal e interdisciplinar. Promovendo,
através de oficinas a sensibilização do corpo docente e discente escolar para a
interdisciplinaridade da educação ambiental, desenvolvendo
seminários/oficinas/minicursos com professores e alunos a fim de discutir
teorias e a elaboração de estratégias e metodologias voltados para a Educação
Ambiental escolar de forma transversal.
O projeto aborda
através das oficinas temas relevantes e atuais sobre questões ambientais, a
saber: degradação ambiental, biomas regionais, reconhecimento local, cultura ambiental,
produção e consumo, escassez de água, poluição, fauna e flora, crescimento
demográfico, produção e destino do lixo, sustentabilidade, preservação
ambiental, dentre outros assuntos que transpassem o tema Educação Ambiental.
O
Projeto em andamento já atendeu várias escolas públicas de Mossoró e Região, do
ensino fundamental menor ao ensino médio. Em cada escola, as oficinas seguem um
planejamento abordando as questões relacionadas à temática ambiental,
direcionando sempre a uma postura de sensibilização dos alunos, fazendo com que
eles dirijam seus olhares e se percebam como sujeitos ambientais, fazedores do
ambiente em que vivem. No dia seguinte a realização das oficinas, os alunos tem
a oportunidade de conhecer uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável (aula de
campo) onde é possível ao aluno perceber a existência de alternativas de vida
sustentável utilizando os recursos locais disponíveis sem exauri-los.
DESVELANDO CONCEITOS: SOCIEDADE DE
CONSUMO E A PROPOSTA DO PROJETO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL.
Ao
levarmos o tema Educação Ambiental para as escolas públicas através do Projeto
“Divulgando a Educação Ambiental na Construção de Saberes e Exercício da
Cidadania na Escola Pública mm Mossoró-Rn”, buscamos primeiramente, perceber
qual a visão dos alunos quanto ao conceito de educação ambiental, e quanto a
esperança de uma sociedade futura. Esta ultima concepção, trabalhada na forma
de pergunta é respondida por eles através da construção de um cartaz, onde representam,
por meio de imagens, quer extraída de revistas (corte e colagem) quer
produzidas por eles mesmos, suas visões, expectativas, projeções, anseios e
medos de uma sociedade que está se construindo. Através dessa atividade os
alunos, em grupo, podem discutir, interagir, se questionar, nos questionar
acerca da participação humana dentro desse processo, se identificando como
sujeitos e co-participantes desse sistema em construção.
Contatamos que a
construção destes cartazes enfatizam dois aspectos interessantes: movidos pela
temática apresentada, os alunos tendem a colocar o verde, a preservação da
fauna e da flora, em alguns casos a questão da saúde e da família, mas também
fortemente, aparece o consumismo, o ter, uma vez que o consumismo está
diretamente ligado a visão de poder, de possuir, a satisfação pessoal, como uma
coisa indispensável ao futuro. Assim percebemos que a sociedade de uma forma
geral, almeja ser possuidora de bens de consumo, apesar de a temática
apresentada ter um caráter ambiental. Nos cartazes os alunos enfatizam tanto a preservação
ambiental quanto o possuir, indicando-os como indispensáveis ao seu futuro.
Esse consumismo, antes da problematização dos temas, toma conta da visão dos
jovens alunos pois como referencia Baudrillard (1970), a sociedade atual é uma
sociedade de consumo,
[...] também a
sociedade de aprendizado do consumo, do condicionamento social do consumo –
isto é, um modo novo e específico de socialização, em relação com a emergência
de novas forças produtivas e a reestruturação monopolística de um sistema econômico
a produtividade alta.
Assim percebemos que o
consumismo é algo que aprendemos a fazer, somos induzidos a ele. O consumismo
na visão de Padilha (2006, p. 55), é a valoração que os objetos passaram a ter ao
serem adquiridos, não pelo seu valor de uso, mas pelo significado social de sua
posse, não é a necessidade que se tem destes, mas também o consumo de imagens e
de valores para uma grande parte da sociedade. Os alunos representam-no não
apenas como algo de sua vontade, mas como uma forma de fazer parte do meio
social, de estar atualizado com o mundo contemporâneo de possuir coisas.
Baudrillard (1995)
apresenta quatro modelos que revelam a lógica dessa estruturação de consumo que
representa para a sociedade a felicidade e a realização pessoal: o kitsch, o
gadget, o lúdico e corpo.
O kitsch é o conjunto
de artefatos da tradição de uma determinada cultura que se torna mercadoria de
consumo. São adornos, bugigangas, quinquilharias como estatuetas, bibelôs,
colares, biscuit, ou seja, são objetos que, além de perder seu significado por
estar sendo comercializados fora de seu contexto, não se têm valor de uso. É o
consumir por consumir na tentativa incansável de encontrar alguma realização
plena.
Outro aspecto
interessante é a reciclagem cultural industrializada que também caracteriza o
kitsch: o que era antigo é relançado como novo alimentando o ciclo vicioso de
seguir a moda das tendências atuais mesmo que sejam velhas novidades. Isso
garante a circulação do mercado que impossibilita o acúmulo de riqueza pelos
consumidores (BAUDRILLARD, 1995). Quanto a isso, alguns cartazes,
principalmente, entre as meninas, demonstram essa visão de consumo de adornos,
objetos que não tem um valor de uso, mas que são ditados pela mídia como sendo
necessários a agregar valor a beleza, ou apenas tendências da moda, e assim,
portanto, necessário ao bem estar pessoal.
Os gadget´s são
produtos que tem utilidade prática, mas passam a ter mais valor pelos seus
acessórios que pela sua função inicial, como no caso dos telefones celulares. Inicialmente
serviam para fazer ligações, hoje em dia passaram a servir para fazer contas,
anotar lembretes, tirar fotos, jogar, ver as horas, assistir a vídeos,
despertar, passar mensagens, trocar arquivos, ou seja, a função principal se
tornou a que menos agrega valor ao celular. Percebemos que alunos que já portam
celulares, ao ver um modelo mais avançado nas revistas que oferecemos para o
corte e colagem, o desejam e colocam em seus cartazes como sendo algo de
fundamental importância a seu futuro.
Outra característica
desnorteada da sociedade de consumo, denunciada por Baudrillard (1995) é a
importância do lúdico, pois segundo este autor a realização plena se tornou
fuga da realidade. Essa visão contraditória que leva os sujeitos a encontrar
nas baladas, passeios, novelas, filmes, músicas, dentre outros os raros
momentos de felicidade. Trabalha-se seis dias da semana com o objetivo de
custear esses raros “momentos de felicidade”, em festas, praias e viagens. Isso
torna-se um ciclo infindável, como aborda o vídeo “ A história das coisas”
utilizado nas oficinas como atividade desencadeadora. Percebe-se na própria
fala dos alunos, ao apresentarem os cartazes, o desejo de dispor de recursos
financeiros para adquirir isso ou aquilo, como se o ter fosse na verdade uma
válvula de escape, e solução para todos os problemas.
Divertir-se
significa, que não devemos pensar, que devemos esquecer a dor, mesmo onde ela
se mostra. Na sua base do divertimento, planta-se a impotência. É, de fato,
fuga, mas não, como pretende, fuga da realidade perversa, mas sim do último
grão de resistência que a realidade ainda pode haver deixado (LIMA, 1990, p.
182).
Diante disso,
percebemos que o consumismo é uma ilusão que envolve as pessoas, pois estas
entregam-se a um ciclo de vida, entre trabalhar e consumir pra ser feliz, numa miraculosa
associação de inversão de valores que, por vezes, são contraditórios. E a quem
se deve isso? “a publicidade constitui um dos pontos estratégicos de semelhante
processo” (BAUDRILLARD, 1995, p. 134). Ou seja, o autor citado denuncia que os
meios de comunicação se tornaram atividades míticas essenciais para orquestrar
a sociedade de consumo, pois os anúncios dizem o que devemos comprar o que nos
fará felizes, as revistas utilizadas pelos alunos são cheias desses bens de
consumo, e encharcadas de anúncios dizendo o que se deve ter.
A associação não falsa
e, ao mesmo tempo, não verdadeira entre produto e felicidade é mítica como a
suprarrealidade da arte. Os publicitários não mentem, mas realizam relações
absurdas, possíveis de acontecer tão somente na ficção (BAUDRILLARD, 1995). Os
produtos de consumo estão associados aos prazeres, ao corpo, ao que satisfaz
pessoalmente cada individuo do ponto de vista do status, aquilo que é
representado na sociedade. O que leva ao uso e desuso de recursos naturais sem
a preocupação com o destino do lixo produzido ao se fabricar tantos bens, onde
um dos objetivos principais é movimentar a economia e não garantir o bem estar
de quem esta comprando.
Nossos alunos ao atentar
para isso ressaltam em suas apresentações que a troca de celulares ocorre com
frequência em decorrência da aparição de modelos mais atuais e com mais funções
o que leva a uma substituição de um produto que ainda serve ao uso, mas que de
acordo com a sociedade não esta mais dentro dos padrões e não contempla o seu
usuário.
Abordamos, com os
alunos de uma das escolas participantes, o tempo de utilidades dos produtos e a
quantidade de lixo gerado na sua produção e no descarte destes, os alunos
atentaram ao fator de que o desgaste planetário e a poluição serão
consequências advindas dessa produção e consumo exacerbado de bens materiais, o
que não é de conhecimento público. Com isso visamos articular os conhecimentos
prévios dos alunos (construção dos cartazes antes da oficina) com o
conhecimento apreendido no decorrer das oficinas, observando –os na
apresentação dos cartazes ao final da oficina.
ARTICULAÇÕES ENTRE O TEMA SOCEIDADE DE
CONSUMO E AS OFICINAS DO PROJETO
Após a
apresentação dos cartazes pelos alunos, ao final da oficina, eles já possuem
outra visão acerca do tema “consumismo”, e já agregam outros valores como
indispensáveis a sociedade que almejam a seu futuro, pois a partir das discussões
acerca das questões ambientais, eles articulam que a aquisição de bens de
consumo, ditados pela mídia capitalista, tem a finalidade de movimentar a
economia e vender seus produtos. Assim a discussão da temática no decorrer da
oficina, após a construção dos cartazes permitem aos alunos trocarem as lentes
(CARVALHO, 2004), e passarem a ver o mesmo objeto que antes almejavam como
essencial a sua vida futura, percebendo-o agora apenas como um produto feito
para ser vendido. Conhecendo toda a história de extração de recursos naturais,
poluição do solo, ar e água, e toda a questão envolvida por trás e que a mídia
não aborda, leva os alunos à conclusão de que “o consumidor real torna-se um
consumidor de ilusões” (DEBORD 1992, p. 9).
Somente
a partir da problematização, do direcionamento, do novo olhar, quando são estimulados
a refletir: “será que eu realmente preciso de tantas coisas, são elas
essenciais a mim?” é que os alunos, confrontados com esses temas, passam a se
perceber consumistas, ou seja, “a natureza artificializada, instrumentalizada
ao extremo, recusa-se a deixar entender diretamente. Os homens não vêem o que
enxergam.” (SANTOS, 1998, p. 51).
Estamos nos tornando uma sociedade
mecanizada, direcionada de acordo com os interesses do mercado e do capital,
mesmo no seu momento de lazer. Estamos nos tornando cada vez menos participantes
e conformados com aquilo que nos é imposto, estamos extraindo da natureza tudo
que ela pode ofertar e devolvendo todo o lixo produzido por isso, e nem ao
menos nos damos conta. É o que Adorno (1996), chama de “semicultos”, onde os
homens pensam unicamente no momento, no instante, sem o interesse a um
aprofundamento crítico sobre o que esta fazendo.
Esse direcionamento levou os
alunos a perceberem que a produção cria os objetos de consumo e o consumo cria
o sujeito para esse objeto, mas além de criar o sujeito para esse objeto, o
consumo inventa todo o espaço que esse sujeito faz parte. A empresa não cria o
objeto (a mercadoria), mas o mundo onde o objeto existe. Ela não cria tampouco
o sujeito (trabalhador e consumidor), mas o mundo onde o sujeito existe (MARX
,1974). Assim tem-se:
A
produção é, pois imediatamente consumo; o consumo é, imediatamente, produção.
Cada qual é imediatamente seu contrário. Mas, ao mesmo tempo, opera-se um
movimento mediador entre ambos. São elementos de uma totalidade (MARX ,1974,
p.115).
Tanto o consumo como a produção são
dependentes, o que nos leva a inferir que sem o consumismo não há motivos para
se produzir tanto, e só se produz muito porque há quem consuma todas as
mercadorias, a preocupação é apenas com a movimentação da economia, que depende
das vendas, consequentemente, do consumo, e toda produção utiliza matérias
primas e a sua fabricação, aumentando a degradação, a poluição, além de outros
agravantes ao meio ambiente, assim:
O consumo
não pode, então, ser considerado um momento autônomo, ele se encontra
determinado, seja, pelo complexo processo constitutivo dos desejos humanos,
seja pela lógica de produção, o que, nas sociedades capitalistas, significa
dizer que se encontra estabelecido pela lógica do lucro (Padilha, 2006, p. 85).
Esse
consumismo todo não aconteceu por acaso, os alunos questionam-se quando se
tornaram consumistas? Recorremos a
Santos (1998), para entender como se deu esse processo, o autor afirma que a
sociedade no final do século XX, influenciada pelo processo intenso de
globalização, torna-se uma sociedade de indivíduos consumistas, enraizando na
cultura esse aspecto, que promove novos conceitos de socialização, aumentando a
individualidade, reduzindo a personalidade, tornando todos muito parecidos,
senão iguais. A exaltação do consumo reduz muitas sensibilidades do homem, e
intensifica e alimenta um individualismo feroz e sem fronteiras. O consumo,
ainda de acordo com Santos (1998), dizima a personalidade, sem a qual o homem
não se reconhece como único, a partir da igualdade entre todos.
Este
trabalho, em uma das oficinas demonstrou o quanto ainda somos ingênuos diante
do modelo capitalista onde vivemos, as influências ditadas na mídia, e por
outros meios de comunicação facilmente nos iludem e nos levam ao consumismo
desenfreado daquilo que acreditamos ter necessidade, algumas coisas realmente
são necessárias a nós, mas outras nem tanto.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesse contexto, de
cerca de 200 anos de revolução industrial, que aqueceu a economia e estimulou o
consumismo vigente até hoje, surge à educação ambiental que assume uma posição
de destaque para construir os fundamentos de uma sociedade sustentável,
apresentando uma importante função num tempo ainda consumista/capitalista, mas
ao mesmo tempo em pleno processo de despertamento frente as questões
ambientais, ao propiciar a base necessária aos processos de mudança culturais
rumo a uma consciência ecológica. O projeto “Divulgando a Educação Ambiental
na Construção de Saberes e Exercício da Cidadania na Escola Pública em
Mossoró-RN”, faz parte desse processo, uma vez que através de uma equipe
multidisciplinar de professores e alunos atuando em escolas da rede pública de
ensino em Mossoró/RN, tem trazido a tona e chamado à responsabilidade de
educadores e alunos face aos desafios da contemporaneidade.
A problemática envolvendo o tema
consumismo, abordado em uma das oficinas numa turma do ensino médio,
possibilitou a apreensão da visão dos alunos quanto a este tema, o direcionamento
da construção dos cartazes que enfatizava o futuro que eles almejavam,
demonstrou que a cultura consumista está inserida na vida das pessoas como algo
comum, e que somente ao trocar as lentes, ao expor o que há por trás da
produção e comercialização desses bens de consumo é que os alunos passam a
enxergar o lado da exploração dos recursos naturais e da poluição que a
fabricação e descartes destes produtos ocasiona.
O Programa Novos Talentos com o
seu Projeto “Divulgando a Educação Ambiental na Construção de Saberes e
Exercício da Cidadania na Escola Pública em Mossoró-RN, tem alcançado seus
objetivos, pois tem conseguido por meio dessas oficinas, levar a informação aos
alunos da rede básica de educação, onde acreditamos, ser a informação a base primaria
para uma nova postura diante da sociedade, estamos assim, construindo saberes
no exercício da cidadania, e nos posicionando diante das problemáticas
ambientais, levando os alunos a reflexão e sensibilização diante da própria
postura, de seu papel como sujeito participante desse processo.
Os alunos se perceberam
consumistas, e além desta concepção atentaram ao fato de que alguns desses bens
não necessários, são comprados apenas porque dizem que precisamos, quando nunca
o usamos para um fim de fato necessário. É assim que a sociedade consumista se
mantém buscando no consumismo uma felicidade e satisfação que acreditam não
ter, é um ciclo interminável, pois, a mídia, principal, responsável pela
divulgação e venda dos produtos, nos faz acreditar que somente comprando
determinado objeto seremos realizados, e essa realização nunca chega por o
pelo fato de o mercado estar sobrecarregado de coisas que ainda precisam ser
vendidas, então deve-se sempre haver necessidades para que hajam compradores.
REFERÊNCIAS
ADORNO,
T. Teoria da semicultura. Educação
& Sociedade, São Paulo, ano XVII, n.56,
dez.
1996.
LEONARD, Annie. A História das Coisas ('The Story of Stuff'). Direção: Louis
Fox. EUA, 2007.
BAUDRILLARD,
Jean. A sociedade de consumo. Lisboa.
Edições 70, 1995.
CARVALHO, I. C. de M. Educação
ambiental: a formação do sujeito ecológico. São
Paulo: Cortez, 2004.
DEBORD, G. A Sociedade do Espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1992.
LIMA, Luiz Costa. Teoria da Cultura de Massa. Rio de
Janeiro. Paz e Terra, 1990.
MARX,
K. Introdução à crítica da economia política. São Paulo: Abril,
1974. p.109-113 (Os pensadores, v.35).
MOLES, A. O Kitsch: a arte da felicidade.
São Paulo: Editora perspectiva, 1975.
PADILHA,
Valquíria. Shopping Center: a
catedral das mercadorias. São Paulo,
Boitempo, 2006.
SANTOS,
M. O Espaço do Cidadão. São Paulo,
Nobel, 1998.
[1] Aluna da graduação em Pedagogia
da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte –
FE/UERN. Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência –
PIBID/CAPES. Monitora do Projeto Novos talentos- CEMAD/UERN.
[2] Aluna da graduação do curso de
Gestão Ambiental da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado
do Rio Grande do Norte – FACEM/UERN. Monitora do Projeto Novos talentos-
CEMAD/UERN.
[3] Aluna da graduação em Pedagogia
da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte –
FE/UERN. Monitora do Projeto Novos talentos- CEMAD/UERN.
[4] Orientadora - Graduada em Ciências biológicas pela
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN. Especialista em Biologia
Geral pelas Faculdades Integradas de Jacarépaguá, RJ. Mestranda em Ciências
Naturais pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Naturais- UERN. Pesquisadora
pelo Grupo de pesquisa: Grupo
de Estudos e Pesquisas em Educação Ambiental, Meio Ambiente e Sustentabilidade
(GEEAMAS).
[5] Ramiro
Gustavo Valera Camacho é professor. Dr. do Departamento de Ciências Biológicas
- DECB/UERN. E coordenador do
Centro de Estudos e Pesquisas do Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional do
Semi-Árido (CEMAD) e do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Ambiental,
Meio Ambiente e Sustentabilidade (GEEAMAS).
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